segunda-feira, 3 de março de 2014

Se existe viagem no tempo-espaço essa viagem se chama "livro".

A consciência que está ali conversando com você, num monólogo, te diz constantemente o que você não é, onde você não está e tudo isso em outra duração completamente diferente da sua. No fim você ainda consegue, através dele, exercitar aquela flexibilidade do ego, coisa tão difícil em conversas pessoais justamente por aceitar o monólogo extenso baixando seus impulsos ao consentimento temporário do "conhecer" outra vida, perspectiva, visão. Mas existe um perigo: o de perceber a "midiocracia" padrão das culturas de hoje que estão ali fora do llivro. Isto é algo que te faz mandar tudo à merda e se dedicar ao isolamento por achar que todos estão vivendo numa espécie de "padronização" idiota. Perigo este que, convenhamos, todos deveriam deixar de ter medo por aqui, hein? Pois é, correr o perigo de se perder em um livro sempre foi, e sempre será necessário...

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Crise?

A crise do capitalismo é também uma crise das culturas europeias. Certo que na Europa não se pode reduzir nada a um tempo, nem a um termo. Não há "hoje" nem há "Europa". A Europa, ou o Euro, não existem de fato - são abstrações imaginadas, conjuntos simbólicos que se imaginam, que se compartilham. E lá, naquele território multicultural, não é a maioria que compartilha o capital. Hans Magnus Enzensberger em seu livro "A fúria do sumiço" escreve um poema intitulado "Os Parasitas":

Em toda parte a gente encontra conhecidos e se admira.
Tropeçam emaranhados uns nos outros.
Necessários, supérfluos: quem
poderia distingui-los! Produtivos, improdutivos:
não é mais tão fácil como antes.
E a gente se pergunta muitas vezes
Se aqui faz falta ainda alguém, seja quem for, por exemplo,
o parasita que lá, quase em frente, está
pichando com letras grandes na parede: parasitas fora!

Aqui na América Latina, como foi nos EUA no início do século passado, a modernidade chega como um vulcão atualmente. O que vem disso? Mais crise para o sistema de compreensão do mundo europeu. Mais crise para o capitalismo, caso nós comecemos a dialogar com um outro tipo de economia.

Os indígenas têm muito a nos ensinar sobre isso.





domingo, 27 de outubro de 2013

Filme de Adrian Cowell, cineasta que conviveu intensamente nas entradas dos irmãos Villas-Bôas e praticou seu trabalho também no ativismo ambiental diretamente com os afetados pelo "progresso" brasileiro. Neste episódio, vemos o então militante da causa ecológica José Lutzenberger contra qualquer invenção latifundiária na floresta.


sábado, 19 de outubro de 2013

Conversa com Raoni

Entrevista com o cacique Raoni sobre questões que envolvem a relação entre as nações Kaiapó e o estado brasileiro. O encontro se deu na mobilização indígena que houve em Brasília no início do mês de outubro, e as respostas foram traduzidas pelo sobrinho do cacique, Patxon Metutkire. Na mesma ocasião, como se pode ver no vídeo, o cacique deu uma palestra entusiasmada aos líderes kaiapó, na lona armada na esplanada dos ministérios.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mobilização indígena em Brasília (outubro de 2013)

De uns tempos pra cá o perspectivismo ganhou força na tentativa de tirar os olhos, o olhar branco, do que se fala ou se percebe sobre a realidade indígena. Desta maneira, os chamados índios brasileiros se armaram com vídeos e procuraram destacar aquilo que eles viam através da imagem e som. Eles, então, conseguiram - e conseguem ainda - , mostrar ao mundo e aos parentes como são imaginados, vistos, como são mediados pelo aparato que sempre os inscreveu segundo a perspetiva de uma dominação - aprisionamento da imagem. 

Agora, o ponto de vista indígena alimenta uma visão "de dentro", realizando uma cultura a partir de quem elabora essa cultura.

No entanto, os brancos ainda auxiliam na constituição de um outro uso dessa arma que é a câmera. O vídeo abaixo ainda está, como tudo neste blog, na perspectiva já ultrapassada do waradzu (branco). Mas toma partido dos A'uwé (povo verdadeiro). Trata-se de uma distorção de uma reportagem, observada a partir, e somente assim, de uma realidade que se tenta impor hoje em dia, que é a da autonomia e da afirmação de povos interiores, originários.


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Parece mesmo uma guerra declarada entre descendentes de portugueses, de alemães e italianos, e os povos originários, tradicionais que vivem aqui no Brasil. Se assim for deixado claro, não seria de se espantar que integrantes de organizações internacionais - de nações ditas mais avançadas economicamente que a "tupiniquim" -, surjam como militantes de uma razão que foge ao interesse da sobreania daqui.

Ótimo então. Aqui temos sulistas colonizando os Estados de Tocantins, Mato Grosso, até a floresta amazônica para descampar tudo e plantar soja (produto há alguns anos descoberto como o único em monocultura que o solo das florestas têm aceitado), e criar gado em pastos. Aqui no Brasil temos o que se chama de bancada ruralista na câmara dos deputados, todos muito patriotas, vociferando pelos corredores de Brasília que são os grandes propulsores da economia nacional. Aqui temos pessoas que ainda pensam no solo brasileiro como um grande terreno de latifúndios, como se a sua utilidade maior fosse a de plantar commodities e descampar, sem pensar nas mudanças climáticas causadas, nem mesmo na riqueza cultural que povos tradicionais preservam e evidenciam para o mundo em sua humanidade diferenciada.

Pois bem, que esteja declarada a guerra, e que ela ponha em evidência a desigualdade de forças entre o Estado brasileiro que financia as plantações (plantations, latifúndios), e o ativismo militante de pessoas interessadas na continuidade de vozes, de rituais, de vestimentas, de pinturas, arte, de compreensões, de idiomas, de ervas, plantas diversas, de raizes, de conversas entre o humano e as outras espécies, enfim. Se estas últimas pessoas forem da Holanda, dos EUA, da França, da Itália, etc., trabalhando em Institutos e ONGs, é porque aqui não há indivíduos que ainda consigam dispender sua atenção e crença a uma realidade que esteja desvinculada do slogan "desenvolvimento nacional". 

Se a guerra está declarada, ela é posta entre colonizadores internos (grandes latifundiários) e uma multidão de povos e pessoas interessadas na existência de um outro tipo de economia - aquela que não monopoliza. Se ela é internacional, estrangeira, que seja. 

O Brasil não tem sabido lidar com estas outras nações internas, que eram donas de seu território antes de sua história ser forjada maldosamente com assassinatos e atitudes mercenárias.

Sônia Guajajara entrega troféu motosserra de ouro para senadora Kátia "Breu".